Roberto Sá Menezes é Provedor da Santa Casa da Bahia, fundador e presidente do GACC-BA (Grupo de Apoio à Criança com Câncer da Bahia), membro do Conselho Fiscal da Associação Obras Sociais Irmã Dulce (AOSID) e do Conselho Consultivo da Confederação das Santas Casas do Brasil (CMB). Mas antes de tudo isso, foi surpreendido, em 1985, com o diagnóstico de um linfoma no seu primeiro filho, na época com apenas nove anos. Apesar da dor e da luta pelo tratamento, Roberto e família venceram a doença e, tocado com o ocorrido, ele resolveu que a partir daí iria trabalhar em prol de outras crianças acometidas de câncer, mas que não encontravam acesso ao tratamento em Salvador. Foi ai que surgiu a ideia de, junto com outros profissionais engajados, fundar uma entidade com a intenção de apoiar crianças com câncer em tratamento. Com toda assistência oferecida para quem precisa, conseguiu elevar as chances de cura, além de evitar que os pacientes abandonassem o tratamento. Confira a entrevista:
1. Como foi receber o diagnóstico de câncer de um filho? Como você recebeu a notícia e como reagiu?
É sempre muito difícil. A gente nunca sabe o que fazer, no início a família fica toda atônita. A partir daí que passamos a conhecer as dificuldades enfrentadas naquela época por quem recebia um diagnóstico semelhante.
2. De onde recebeu (ou tirou) forças para enfrentar o desafio da cura? Quando percebeu que poderiam vencer a doença?
O amor pela vida faz a gente enfrentar todos os obstáculos e eu queria meu filho vivo. Nos dedicamos e, apesar das dificuldades e medos no caminho, vencemos a doença. Mas o processo tocou a mim e toda família. É impossível não se sensibilizar. As forças surgem. Não sabemos como. Talvez com muita fé e acreditando sempre na vitória. A tensão só terminou dois anos após o término do tratamento, que era o tempo estimado, à época, para a ocorrência de uma recidiva da doença.
3. Como surgiu a ideia da fundação do GACC?
Durante o tratamento do meu filho. Dra. Núbia Mendonça, oncologista pediátrica, que foi inclusive quem tratou do meu filho, esteve junto com a gente desde o início e argumentava que crianças pobres, oriundas do interior do estado, principalmente, tinham dificuldades de acessar o centro de tratamento na Capital, bem como, dar continuidade ao tratamento e dispor de transporte e hospedagem, principalmente. Nossa ideia, então, foi de montar uma casa exclusivamente para abrigar esses pacientes e seus responsáveis, para acolhê-los e auxiliá-los, tornando assim o tratamento mais efetivo, evitando interrupções e aumentando as chances de cura. Eu e outras pessoas envolvidas com esta luta (pais e médicos) sentíamos a necessidade de ajudar as outras famílias.
Nosso desafio também é na difusão de informações. Existe pouco conhecimento sobre o câncer infantojuvenil. Por isso, a importância do diagnóstico precoce, divulgando os sinais e sintomas. O quanto antes a família perceber os sinais, mais chances de cura.
4. Quantas crianças já foram atendidas?
Desde a fundação do GACC, em 1988, já atendemos cerca de 4 mil crianças e seus acompanhantes.
5. A relação com a Santa Casa foi a mais recente? Como reagiu à ideia de se candidatar a provedor, mesmo sendo um cargo sem remuneração?
Desde 2002 faço parte da Irmandade da Santa Casa da Bahia e, em 2005, ocupei os cargos de tesoureiro e mordomo diretor de Saúde até ser eleito provedor, em 2014. Quando sugeriram que me candidatasse ao cargo, eu já conhecia bastante a Instituição, sobretudo sobre a importância de suas ações para a sociedade. Suas ações sociais, bem como a busca pela excelência nos seus serviços à população, me motivaram a topar o desafio de ser provedor dessa instituição filantrópica. Tanto que em 2017 já inicio meu segundo mandado, após reeleição ocorrida em novembro deste ano.
6. Antes de tudo isso você imaginava que sua vida tomaria este rumo? Que hoje seria reconhecido pelo trabalho social que exerce?
Não imaginava. Sempre tive preocupação com o bem estar dos outros. Desde pequeno, na escola primária, já pagava, com minha mesada, um carnê para o Instituto de Cegos. Quando adolescente, comecei a ajudar, modestamente, com doações para Irmã Dulce e para a Organização de Auxílio Fraterno (OAF), à época dirigida pela Sra. Dalva Matos. Talvez aí, tivesse começado a inspiração.
O reconhecimento pessoal não é um objetivo. Já o reconhecimento das instituições, sim. É importante o envolvimento da sociedade para legitimar e participar do trabalho. O pessoal é uma consequência e se deve ao envolvimento de todos que participam do trabalho, voluntariamente ou não.